Último acorde do violino solitário

nada sei sobre a vidinha
do pernilongo
que mato indiferente
na parede.
mas desconfio que era a única
que ele tinha.

Ulisses Tavares

tem os que passam...

tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado.

Alice Ruiz

da ausência enquanto calma

a cor e o perfume
das pétalas

de todas as rosas
dos ventos

nas mãos de resto
vazias

Márcia Maia

Aviso

Mantenha-se longe de mim.
De meu rosto, meus olhos e cabelos,
de todos os meus destemperos.
Fuja para mais além.
Sou cortante, áspera, desregulada,
insidiosa como as ervas do jardim.
Afaste-se, encubra o seu sorriso,
dê-me as costas antes do final.
Posso arranhar o verniz que o reveste,
manchar de vermelho seus instantes sem cor.
E arrastá-lo, quase morto, por meus abismos particulares
onde somente florescem
palavras.

Zingarah

me amanhece ...

me amanhece na
pele e memória
teu toque. pousa ali
cotidiano

(ave escrita no céu)

cotidiano
me assombra na
memória o teu
toque. pousou ali

(ave rabisco em mim)

e permaneceu.
me conforta a
pele e memória
teu toque e teu rosto

(ave pousada em mim)

Eiichi

Wanted for nothing...

Procura-se verso
vivo ou morto.

Foi visto pela
última vez
a roubar palavras
da minha boca.

Dizem as más
línguas que o verso
fugiu com a rima
levou a estrofe
e ainda por cima
deixou o poema na mão

sem pé nem cabeça.

Clauky Saba